O Ministério do Meio Ambiente recentemente criou um Grupo de Trabalho para intensificar as ações de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Velho Chico. Essa “força-tarefa” será composta por representantes de diversas instituições vinculadas ao MMA com o objetivo de criar uma ação integrada para produzir soluções coordenadas. A meta é no mês de maio já apresentar medidas de médio prazo que possam ser avaliadas e mensuradas. Os desafios e soluções para o Velho Chico são antigos, e em 2001 um plano integrado semelhante foi implementado. Mais de uma década depois o relatório do Senado Federal que avaliou a Política de Revitalização da Bacia Hidrográfica do São Francisco concluiu que a integração não ocorreu na prática, levando a uma dispersão nas tomadas de decisão pelos diferentes atores. A consequência mais relevante desse problema foi a decisão de iniciar a transposição antes de revitalizar a bacia. É como se num sistema de abastecimento de água fosse construída a rede de distribuição antes de se construir a captação e a caixa d’água.
Essa decisão mostra a falta de coordenação no processo de tomada de decisão. Foram gastos mais de 8 bilhões na rede de distribuição sem haver um investimento adequado na fonte dessa água. Outro fator que dificultou a priorização das ações no âmbito da bacia foi falta de coordenação com os estados, que muitas vezes tem uma velocidade maior na autorização de empreendimentos com alto impacto aos recursos hídricos que o processo de planejamento integrado da bacia hidrográfica. As bacias que mais contribuem para o assoreamento do Velho Chico em ordem decrescente: O Paracatu, Urucuia, Velhas, Grande e Corrente, representando mais de 50% da vazão que alimenta o Velho Chico. Essas subbacias devem ser priorizadas imediatamente com o mapeamento e adoção de práticas de recuperação de áreas degradadas, identificação e proteção de áreas de recarga, nascentes e margens.
Hoje existem ferramentas computacionais que permitem a criação de cenários futuros considerando as diversas intervenções planejadas. Esses modelos ajudam antever impactos dos projetos estruturantes bem como priorizar as ações e gerar indicadores de desempenho a partir de um cenário base para um cenário desejável. Essas técnicas devem ser estimuladas para o planejamento integrado da bacia. Abaixo, figura mostra cenário atual e futuro da produção de água e sedimentos na bacia hidrográfica do Velho Chico.
O modelo matemático desenvolvido para o Velho Chico gerou 2 cenários. No primeiro cenário removeu-se todas as barragens e considerou-se a bacia intacta, ou seja, totalmente coberta com a vegetação nativa. Neste cenário obteve-se uma carga de sedimentos de 8 milhões de tonelada/ano passando por Morpará-BA. O segundo cenário, foi o atual após o desenvolvimento das atividades antrópicas onde o modelo revelou o processo de assoreamento da calha principal com uma carga de 27 milhões de tonelada/ano na mesma seção de Morpará, ou seja, um incremento de 19 milhões de tonelada/ano nos últimos 50 anos. Uma proposta para dinamizar o processo de revitalização é atacar duas frentes. Uma com foco nas causas do assoreamento por meio de práticas de conservação de água e solo nas partes altas da bacia e a outra com foco nos efeitos por meio de desassoreamento da calha principal. O modelo desenvolvido para a calha principal mostrou que a dragagem de 7.500.000 m3 de areia permite viabilizar 1.000 km de hidrovia entre Pirapora e o Reservatório de Sobradinho.